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Jefferson de Albuquerque Mendes

Resenha França Antártica: Ensaios interdisciplinates.

Atualizado: 13 de mai. de 2021



Resenha "BERBARA, Maria; MENEZES, Renato; HUE, Sheila. França Antártica: Ensaios Interdisciplinares. Campinas: Editora da Unicamp, 2020."


O Estudo da França Antártica do século XVI possui diversas características que marcam seu universo de fontes. Os indivíduos envolvidos em seu desenrolar foram indivíduos de saber. O livro aborda a história do empreendimento colonizador francês na área da baía de Guanabara que se desenvolveu entre 1555 e 1560. Contudo, a novidade conferida aos 11 artigos reunidos que formam o escopo do livro procura "ressaltar, cada um a seu modo, as especificidades das coordenadas espaçotemporais e seus produtos intelectuais". O livro é resultado de um seminário que ocorreu nos dias 8 e 9 de agosto de 2018, de mesmo nome, ou seja, as ideias aqui expostas fazem parte de um duplo processo intelectual: o de exposição das ideias e o da escrita.


Quem desejar fazer um juízo aproximado do que foi a tentativa de estabelecimento dos franceses no Rio de Janeiro em meados do século XVI, deve conhecer a situação existente na Europa e a mentalidade da época, mas sobretudo a literatura relacionada com o dito empreendimento. A viagem realizada por Villegagnon, em 1555, trouxe à Guanabara cerca de 300 homens, porém em 1558 haviam apenas 80 franceses sob seu comando. Projetam muita luz, a respeito, as Singularidades da França Antártica e a Cosmografia Universal do franciscano André Thevet, e a História de Uma Viagem Feita à Terra do Brasil, de Jean de Lery.


Por meio da análise de escritos, imagens e artefatos, cada artigo traça mobilizar informações, comprovar seus registros escritos, no intuito de um grande balanço histórico-artístico “entre os diferentes instrumentais teóricos e metodológicos de que se valem os autores dos textos”. Dividido em duas partes, o livro, em sua filigrana interdisciplinar, traz abordagens que acentuam os aspectos relacionados a pesquisa por partes das fontes a serem revisitadas.


A primeira parte do livro nomeada “Letras e Música” abrange estudos nos campos das “letras, da linguística e da história da música”. Esses artigos açambarcam análises sobre o século XVI correlacionando essas leituras com reavaliação em outros períodos, o que torna as abordagens perante os artigos como uma espécie de “procedimentos de amplificação” no exame dos elementos constitutivos da natureza interdisciplinar que cada artigo que compõe a primeira parte do livro – seja nos estudos literários, históricos, transcrições musicais. Nesta primeira parte constitui-se de artigos de autores diversos como Frank Lestringant (artigo inédito em língua portuguesa), Izabel Leal e Rafaella Fernandez, Marcello Moreira, Paulo Castagna e Ruth Monserrat.


Na segunda parte do livro intitulada “Imagens Multivalentes da França Antártica”, explora-se o impacto da iconografia da França Antártica nas guerras religiosas na França e na Europa, e como a circulação desses motivos iconográficos, de certa forma, mobilizou todo um debate de ordem religiosa, filosófica, política e social. Devemos ter em mente que o livro não se trata somente França Antártica, mas sim das possibilidades que a própria longa duração do tema impacta e objetiva nos séculos seguintes, nas diversas disciplinas que se ativeram ao estudo sobre a empreitada francesa. Pesquisadores como Amy Buono, Maya Suemi Lemos, Maria Berbara, Sheila Hue, Paulo Knauss e Vera Beatriz Siqueira integram.


Assim, os autores que compõem o livro produziram textos sobre os mais diversos formatos: pintura, folheto, ballet, gravura, partituras, o que evidencia, por fim, a interdisciplinaridade e multiplicidade proposta pelo livro, que traz um novo foco de luz para o tema.


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